Por Fernanda Zibordi, da revista Galileu, Wikimedia Commons
As integrantes de um grupo de mulheres mergulhadoras que vive da ilha de Jeju, na Coréia do Sul, costumam passar mais tempo debaixo d ‘água do que qualquer outro ser humano conhecido. As Haenyeo (“mulheres do mar”, em coreano) praticam mergulho livre na tarefa de coletar frutos do mar. E se adaptaram a ponto de passarem até 5 horas por dia submersas, segundo um novo estudo feito por cientistas da Universidade de St Andrews, na Escócia.
A pesquisa, publicada nesta segunda-feira (18) na revista científica Current Biology, revela que as Haenyeo ficam mais tempo mergulhando do que muitos mamíferos aquáticos, incluindo castores, lontras-marinhas e leões-marinhos. A habilidade envolve adaptações que vão contra as respostas esperadas de mamíferos, como a diminuição da frequência cardíaca e do fluxo sanguíneo para os músculos.
Os resultados das observações mostraram que, em um período de duas a dez horas por dia, as mergulhadoras passam, em média, 56% do tempo debaixo d ‘água, sendo essa a maior proporção de tempo submerso já registrada em humanos. Sobre os mergulhos, eles variaram de 1 a 4,5 metros de profundidade, com duração média de 11 segundos. Também foi registrado apenas 9 segundos de recuperação na superfície entre os mergulhos.
Sereias de Jeju
O grupo, formado em mais de 90% por mulheres que têm mais de 60 anos, tem registros históricos que datam de 3 mil anos atrás, além de ser reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial pela UNESCO. Para entender melhor suas características, os pesquisadores acompanharam o comportamento e fisiologia de sete Haenyeo ao longo de 1.786 mergulhos.
Dispositivos usados em mamíferos marinhos foram empregados para monitorar o tempo e a profundidade de mergulho alcançados pelas mulheres, assim como a frequência cardíaca e os níveis de oxigênio no sangue.
“É o mais próximo que se pode chegar de estudar uma sereia”, relata Chris McKnight, biólogo marinho e coautor do estudo, em entrevista à revista Science News.