Por: Lucas de Azevedo
Numa decisão que marca mais um capítulo da corrida global para regular a inteligência artificial na publicidade, o governo da Coreia do Sul anunciou que, a partir do início de 2026, todos os anúncios produzidos com IA deverão ser claramente rotulados como tal, numa tentativa de travar a proliferação de deepfakes com “especialistas” fabricados digitalmente e celebridades a promover produtos como comprimidos para emagrecer, cosméticos e sites de jogo ilegal nas redes sociais.
Após reunião realizada nesta quarta-feira (10), em Seul, presidida pelo primeiro‑ministro Kim Min‑seok (foto), as autoridades detalharam que quem criar, editar ou publicar fotos e vídeos gerados por IA terá de incluir a identificação visível de que o conteúdo é artificial, e que plataformas como YouTube e Facebook também serão responsabilizadas caso os anunciantes ignorem as regras, num esforço para proteger sobretudo idosos, que têm mais dificuldade em distinguir o que é real do que é sintético.
Em conferência de imprensa realizada o diretor de política econômica e financeira do Gabinete de Coordenação de Políticas Governamentais, Lee Dong‑hoon, afirmou que anúncios desse tipo estão “a perturbar a ordem do mercado” e insistiu que “é essencial agir rapidamente” para conter fraudes e desinformação, acrescentando que as coimas serão aumentadas e poderão chegar até cinco vezes o prejuízo causado quando se provar que houve distribuição consciente de conteúdos falsos.
Os números apresentados pelo Ministério da Segurança Alimentar e dos Medicamentos reforçam a urgência: só em 2024 foram identificados mais de 96,7 mil anúncios ilegais online de alimentos e produtos farmacêuticos, com quase 69 mil novos casos até setembro deste ano, em paralelo a um crescimento de golpes que usam imagens manipuladas para chantagear vítimas, cenário que levou o governo a prometer avaliações em até 24 horas, mecanismos de bloqueio de emergência e até o uso da própria IA para monitorizar e remover mais rapidamente conteúdos nocivos.
Na mesma reunião, Kim sublinhou a necessidade de “minimizar os efeitos secundários das novas tecnologias” justamente no momento em que o país reforça investimentos em chips avançados e em aplicações de IA, numa estratégia que tenta equilibrar inovação e proteção de direitos, enquanto a fotografia oficial divulgada pelo gabinete do primeiro‑ministro mostra Kim à cabeceira da mesa, rodeado por ministros e técnicos diante de ecrãs com gráficos e exemplos de anúncios digitais, imagem que sintetiza o desafio de domar a tecnologia sem travar o seu potencial económico.





