Por: Lucas de Azevedo
Na madrugada de terça para quarta-feira, (9) para (10), o bairro de Al Mustaqbal, em Fez, no norte de Marrocos, foi sacudido por um estrondo que quebrou o silêncio e mudou para sempre a vida de dezenas de famílias: dois edifícios residenciais de quatro andares desabaram, deixando pelo menos 19 mortos e 16 feridos, alguns em estado grave, enquanto equipas de proteção civil lutavam contra o tempo para encontrar sobreviventes sob os escombros, num cenário de sirenes constantes, poeira e gritos de desespero que se prolongou pela madrugada.
“Parecia um terramoto, a casa inteira tremeu e, quando abri a porta, só vi uma nuvem de pó e pessoas a correr sem saber para onde”, relatou à reportagem o comerciante local Hassan El-Mansouri, de 47 anos, entrevistado no local na manhã desta quarta-feira, (10), ainda com o avental coberto de cinzas e restos de entulho.
Ao lado, sentada numa manta improvisada no chão, a moradora Amina B., 32 anos, que vivia num dos prédios com os dois filhos pequenos, contou, com a voz embargada, que tinha chegado do trabalho pouco antes do desabamento:
“Perdi vizinhos que eram como família, ainda não consigo acreditar que a nossa rua virou isto… só quero notícias de quem ainda está lá dentro”, disse, apontando para a zona interditada pelas autoridades, onde escavadoras e bombeiros avançavam com cuidado para não provocar novos colapsos.
As autoridades confirmam que oito famílias viviam nos dois blocos, construídos para dois andares e posteriormente elevados a quatro pisos, o que levanta dúvidas sobre as condições estruturais e o cumprimento das licenças urbanísticas, tema que volta a acender o debate nacional sobre fiscalização de edifícios em risco no país, já marcado por outros desabamentos fatais em Fez e noutras cidades marroquinas nos últimos anos.
Militares e bombeiros passando de mão em mão baldes com entulho, vizinhos abraçados em choque e uma fila de ambulâncias à espera de novos resgates, numa fotografia que resume o caos e a dor de uma comunidade que, em poucas horas, passou da rotina doméstica ao luto coletivo.
